Com Luan longe da área, o Grêmio foi pouco agressivo em um jogo no qual era importante o gol

Fluminense e Grêmio fizeram um jogo sonolento no Maracanã porque o 0 a 0 caiu bem a ambos. O Flu não está priorizando a Copa do Brasil: está priorizando é sair de sua crise. Assim, um empate contra um dos melhores times do país na atualidade, mesmo em casa, foi um resultado saudado por todos. O time gaúcho, por sua vez, poderia ter forçado mais. Porém, a estratégia gremista foi clara: o confronto tem 180 minutos, e, diante do cansaço pelo acúmulo de jogos, amorcegar a partida no Maracanã foi algo pensado tendo em vista a sequência de partidas que virá, além de outro fator: uma absoluta confiança de que, na Arena, a vitória sobre o Tricolor Carioca será conquistada.

Ainda assim, não dá para negar que a sensação é que o Grêmio deixou de matar o confronto ontem mesmo. Mesmo visivelmente se poupando, mesmo em jornada técnica abaixo do que pode e costuma desempenhar, a equipe de Roger Machado teve o jogo quase sempre à sua feição. Controlou 59% do tempo de posse de bola, criou seis chances de gol e sofreu apenas duas - sendo uma delas um chute de longe de Gérson, por cima da trave. No segundo tempo, o Flu não teve sequer uma chegada de perigo ao gol de Marcelo Grohe. Tivesse forçado um pouco mais, o time visitante teria vencido. Ou melhor: se fosse um jogo de Campeonato Brasileiro, onde é importante sempre vencer, sem pensar em uma partida de volta para administrar, teria ganhado com naturalidade.

Mas a falta de agressividade do Grêmio não se deveu só ao fator físico, à competição diferenciada ou ao gramado ruim do Maracanã. O fato é que Roger mexeu na única peça que não deve nunca ser mexida: Luan. Se é ponto pacífico que ele rende mais como falso centroavante que em qualquer outro lugar do campo, nada mais equivocado que puxá-lo para uma ponta para acomodar Bobô no time. O jogo flui melhor quando Luan está centralizado, participando intensamente de todos os movimentos ofensivos do time. Preso a uma ponta, tem seu jogo podado. Não é à toa o fato de a equipe ter melhorado após a saída de Bobô para o ingresso de Fernandinho: com Luan na dele, centralizado nos 30 minutos finais, o jogo ofensivo do Grêmio cresceu.
Contra o Flu, Luan praticamente não entrou na área, permanecendo a maior parte do tempo aberto pela esquerda. A movimentação contrasta...

...com a que ele teve no Gre-Nal dos 5 a 0, quando foi o destaque maior da partida. Naquele dia, sua presença de área foi tão forte quanto voltando para armar o jogo no meio
Nada disso é culpa de Bobô, que deu trabalho à defesa do Fluminense e já se mostrou peça útil em partidas recentes, como diante de Figueirense, Goiás e Corinthians. Porém, se a ideia é colocá-lo como titular, será preciso repensar o esquema tático: em vez de atuar aberto pela esquerda, Luan deveria formar uma dupla de ataque de área com o centroavante, como faziam Jonas e André Lima em 2010, por exemplo. Tirar Luan das proximidades da zona de arremate e trazer de volta o jogador que irritava a torcida e, por isso, quase foi fritado nos tempos de Enderson Moreira e Luiz Felipe Scolari. Por enquanto, porém, o ideal é manter o esquema que vem dando certo, sem mudanças táticas nem de peças. Bobô deveria ser tratado como um bom reserva, assim como Fernandinho é de vez em quando.

Apesar de tudo isso, e embora o 0 a 0 seja um placar até melhor para quem joga em casa do que fora, a tendência natural indica um Grêmio classificado na quarta-feira que vem. O Fluminense tem qualidade individual superior ao que vem rendendo, mas a diferença entre os dois times, seja coletiva, animica ou de momento, é enorme. Se criou apenas duas chances no Maracanã, onde já jogou resguardado, o time carioca deve sofrer ainda mais dificuldades atuando em Porto Alegre. Claro, um gol do time de Eduardo Baptista na Arena pode reverter tudo, mas a superioridade apresentada indica uma tendência positiva para a passagem gremista rumo às semifinais.

Comentários

Lourenço disse…
Acho que o Roger se perdeu um pouco ao ganhar mais opções (Fernandinho e Bobô), o melhor Grêmio, com todas as opções disponíveis, sempre teve Pedro Rocha e Luan. O Grêmio torna-se um time mais dinâmico e menos previsível com os dois. Nunca entendi a perda de titularidade do Pedro Rocha.
Vicente Fonseca disse…
Concordo plenamente. O Fernandinho e o Bobô são bons reservas, ótimas opções para um decorrer de jogo, mas o estilo do time todo funciona melhor com Luan e Pedro Rocha. Os resultados têm se mantido similares, mas o melhor desempenho do Grêmio esse ano (aquela semana contra Inter e Atlético) foi com os dois no ataque.