Um prêmio à humildade



O Guaraní aprendeu a lição. Goleado pelo Racing por 4 a 1 em Avellaneda, sabia que sua única chance de enfim vencer pela primeira vez um time argentino na história era postar-se de forma humilde, mesmo em casa. A superioridade da Academia no jogo anterior e a fórmula retraída que o Sporting Cristal usou de forma bem sucedida no Cilindro foram aplicadas, e o resultado foi uma surpreendente vitória por 2 a 0, resultado que coloca o time paraguaio firme na briga por classificação.

Fernando Jubero mudou de esquema pela quarta vez nesta Libertadores. Em relação ao time que goleou o Deportivo Táchira por 5 a 2, no entanto, a única alteração foi o posicionamento dos meias Ocampo e Benítez, desta vez quase dois volantes, e não dois pontas. A estratégia era clara: congestionar o meio, dificultando o toque de bola rápido e as escapadas em velocidades do campeão argentino.

O esquema funcionou bem durante toda a partida. No primeiro tempo, mesmo com quase 60% da posse de bola, o Racing só chegou perigosamente uma vez, em lançamento longo de Videla para conclusão fraca de Castillón. Camacho e Bou até tramaram uma ou duas jogadas pelo lado esquerdo, mas a marcação dos três zagueiros sobre Diego Milito foi eficiente. O que faltava ao time da casa era poder ofensivo. Santander não começou a partida por ter sentido dores musculares, e Fernando Fernández, seu substituto, foi pouco acionado e jamais teve vitória pessoal. Tudo isso favorecia o adiantamento dos zagueiros Sánchez e Cabral, chamando o Racing para o campo de ataque.

O jogo começou a ficar perigoso para os paraguaios quando Brian Fernández entrou no lugar do descontado Bou. Ele compôs ótima dupla com Camacho pela esquerda, e Diego Milito passou a ser cada vez mais bem abastecido. Ainda assim, a superioridade não se traduzia em chances criadas, a não ser em bolas alçadas, na base do chuveirinho. Para dar preocupação à zaga argentina e evitar uma pressão ainda maior, Jubero colocou Santander no comando de ataque, no lugar de Fernando Fernández, mantendo o esquema e a humildade do 3-6-1. Nem o treinador do Guaraní imaginava, porém, que logo em seu primeiro lance ele chapelaria Sánchez e faria um golaço. A bola entrou ou não? Dúvida que persistirá por um bom tempo. O lance é semelhante demais ao famoso gol da Inglaterra contra a Alemanha Ocidental na final da Copa de 1966.

O Racing não esperava o gol tomado, e foi se enervando. Brian Fernández seguia fazendo boas tramas pelo lado esquerdo, mas Milito não conseguia o gol. Faltou criatividade ao Racing, e nem a entrada de Óscar Romero, centralizado, ajudou. O esquema fechado do Guaraní, claro, colaborou para isso, dificultando as tramas platinas a noite inteira. Do lado paraguaio, Palau, então nome discreto, acertou um tirambaço inapelável para Saja e matou o jogo.

Foi a pior partida do Racing na Libertadores. Ao contrário da derrota para o Sporting Cristal, quando jogou bem e acabou derrotado numa daquelas peças que o futebol nos prega, desta vez o revés se deu principalmente por mau futebol praticado. Porém, o fato é que o resultado pouca coisa muda na vida do time argentino. Com 9 pontos, a equipe decidirá seus rumos em casa, contra o fraco Deportivo Táchira, enquanto Guaraní e Sporting Cristal decidem a vida num confronto direto com cara de mata-mata em Lima. Os paraguaios foram a 8 pontos hoje, os peruanos podem ir a 8 se ganharem em San Cristóbal.

O que o Racing perdeu hoje foi a chance de consolidar a sua campanha como uma das melhores da primeira fase. Talvez pague por isso pegando um time mais forte nas oitavas, talvez não. No frigir dos ovos, este era um jogo que a equipe de Avellaneda podia perder. A oscilação de desempenho é que preocupa um pouco, já que no Campeonato Argentino a Academia vem fazendo campanha não mais que razoável, longe do brilho que emanava em 2014 e nos primeiros jogos da Libertadores deste ano.

Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2015 - 1ª fase - Grupo 8 - 5ª rodada
7/abril/2015
GUARANÍ-PAR 2 x RACING 0
Local: Defensores del Chaco, Assunção (PAR)
Árbitro: Heber Roberto Lopes (BRA)
Público: não divulgado
Renda: não divulgada
Gols: Santander 21 e Palau 35 do 2º
Cartão amarelo: Benítez, Mendoza, Aguilar, Castillón, Cabral e Pillud
GUARANÍ-PAR: Aguilar (6), Maldonado (5), Cáceres (6) e Cabral (5,5); Filippini (5,5), Palau (6,5), Mendoza (5,5), Ocampo (5) (De La Cruz, 31 do 2º - 5,5), Benítez (5,5) (González, 38 do 2º - sem nota) e Aranda (5,5); Fernández (4,5) (Santander, 19 do 2º - 7). Técnico: Fernando Jubero (7)
RACING: Saja (5), Pillud (5), Sánchez (4,5), Cabral (5,5) e Grimi (5); Alvarado (5,5) (Romero, 25 do 2º - 5,5), Videla (6), Castillón (6) (Acuña, 13 do 2º - 5,5) e Camacho (5,5); Bou (5) (Fernández, 10 do 2º - 6,5) e Diego Milito (5,5). Técnico: Diego Cocca (4,5)

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