Um senhor amistoso


À exceção do Superclássico das Américas, com times apenas domésticos, o Brasil não ganha de uma seleção de grande porte desde setembro de 2009, quando fez 3 a 1 na Argentina, pelas Eliminatórias. E a Itália, por sua vez, não vence a seleção canarinho desde o jogo em Sarrià, pela Copa de 1982 - foram seis jogos de lá para cá. A noite de Genebra viu a manutenção desses dois tabus mas, acima de tudo, um jogaço de futebol.

Em dois minutos de jogo, já tínhamos duas chances de gol para cada lado. Era prévia do que viria pela frente. Brasil e Itália fizeram um clássico aberto, tiveram posturas ousadas, partiram para cima um do outro. A Itália até mais do que o Brasil. Por isso, o placar de 2 a 0 em favor dos pentacampeões no primeiro tempo foram absolutamente enganosos, não refletindo o que era o jogo. A exemplo do que fez na Eurocopa 2012, a Azzurra foi bem mais do que uma defesa sólida. Foi mais criativa e, se alguém tivesse que ter vencido o jogo, seriam os europeus.

Desde o início, ficou claro o erro que Luiz Felipe cometeu ao apostar em três atacantes. Mesmo com Oscar em campo, e não Ramires, como era previsto, Hulk recuava bastante. Na prática, era muitas vezes um meia, sem a qualidade de armação que a função requer. Errou a maioria das jogadas e acabou sendo uma peça a menos. Mesmo assim, as boas tramas entre Oscar e Neymar renderam frutos - o segundo gol, um golaço construído por ambos, é o maior exemplo. Se faltava consistência ofensiva em termos de intensidade, a velocidade desta dupla propiciava bons contragolpes.

Assim, o cenário era o contrário do que o senso comum manda: a Itália ditou o ritmo do jogo, marcou adiantado e pressionou, e o Brasil se defendeu e esperou para dar o bote, mesmo sem proteger direito a sua defesa. Fernando, sobrecarregado, deu conta do recado na marcação, mas errou passes comprometedores - qualquer erro poderia comprometer em um sistema defensivo pouco guarnecido. Pirlo, recuado como sempre, era dificílimo de marcar. Seus lançamentos para Balotelli eram um verdadeiro terror. Com Júlio César em noite inspirada e um aproveitamento altíssimo na frente, o Brasil saiu com um 2 a 0 impensável diante do que era a partida.

As entradas de Cerci e El Shaarawy nos lugares de Pirlo e Osvaldo deram mais velocidade à Itália. Cerci infernizou Filipe Luís, complicando ainda mais a saída de bola brasileira. Os dois gols vieram quase que em sequência, reabrindo o jogo. Felipão tirou Oscar para colocar Kaká, uma prova de que pensa mesmo na manutenção do 4-3-3. Hulk, apagado, só saiu aos 39 do segundo tempo. A Itália seguiu sempre mais perigosa, embora o Brasil tivesse tido suas chances. 

A seleção não fez um mau jogo. Apresentou problemas de estruturação de certa forma normais, mas encarou um adversário de alto nível muito bem, com intensidade, e por pouco não saiu com a vitória. É interessante notar a diferença de postura para a partida contra a Inglaterra, onde o time foi bem mais apático e mereceu perder. Um empate contra a Itália vale muito mais para a preparação da equipe do que várias goleadas contra adversários menores. O Brasil precisa mesmo de grandes testes, e precisa ganhar grandes jogos. Este contra a Itália já foi um ótimo aperitivo - afinal, a partida se repetirá no dia 22 de junho, em Salvador, pela Copa das Confederações.

Amistoso
21/março/2013
ITÁLIA 2 x BRASIL 2
Local: Stade de Geneve, Genebra (SUI)
Árbitro: Stephan Studer (SUI)
Público: 29.700
Gols: Fred 32 e Oscar 41 do 1º; De Rossi 8 e Balotelli 11 do 2º
Cartão amarelo: Maggio, Poli, Filipe Luís, Hernanes e Fred
ITÁLIA: Buffon (6), Maggio (5,5), Brazagli (6), Bonucci (5) e De Sciglio (6) (Antonelli, 28 do 2º - 5,5); Pirlo (6) (Cerci, intervalo - 6,5), De Rossi (7) (Diamanti, 35 do 2º - sem nota), Montolivo (5,5) e Giaccherini (5) (Poli, 22 do 2º - 5,5); Osvaldo (5) (El Shaarawy, intervalo - 5,5) e Balotelli (7) (Gilardino, 37 do 2º - sem nota). Técnico: Cesare Prandelli (6,5)
BRASIL: Júlio César (7), Daniel Alves (5,5), David Luiz (6), Dante (6,5) e Filipe Luís (5) (Marcelo, 31 do 2º - 6); Fernando (5,5), Hernanes (5,5) (Luiz Gustavo, 45 do 2º - sem nota) e Oscar (6,5) (Kaká, 16 do 2º - 5); Hulk (4,5) (Jean, 39 do 2º - sem nota), Fred (6) (Diego Costa, 23 do 2º - 5) e Neymar (7). Técnico: Luiz Felipe (5,5)

Comentários