Das profundezas de Ibagué à glória em Yokohama

O Corinthians até poderia ter perdido o Mundial hoje de manhã, mas não seria por erro no planejamento ou na condução dos trabalhos. Do início de 2011 para este glorioso 16 de dezembro de 2012, tudo foi feito à perfeição no Parque São Jorge. A começar pela maior tragédia vivida pelo clube desde que retornou da Série B: a eliminação para o Tolima na fase preliminar da Libertadores do ano passado.

Sempre que o Timão conquista algo importante nós relembramos aquele 2 de fevereiro de 2011. O dia em que Tite foi mantido no cargo apesar do vexame. O Corinthians apostou na continuidade, não deu ouvidos às cornetas, internas ou alheias, e levou fé no seu trabalho. Hoje, Adenor Bacchi é o quinto técnico brasileiro, ao lado de Paulo César Carpegiani, Telê Santana, Paulo Autuori e Abel Braga a ter títulos do Brasileirão, Libertadores e Mundial no currículo. Só Carpegiani e Telê conseguiram, como Tite, ganhar tudo isso em um intervalo de dois anos. E, se ganhar a Recopa de 2013, Tite será o único técnico campeão de todas as competições que existem atualmente no futebol brasileiro.

Foi o maior acerto da história corintiana. Afinal, Tite tem absolutamente todos os méritos nestes dois anos mágicos que vive o Corinthians. No ano passado, remontou um time absolutamente humilhado, deu-lhe consistência e foi campeão brasileiro. "Ah, mas com dinheiro é fácil", podem dizer. Onde está o Flamengo, que ganha da TV tanto quanto o Corinthians?

Neste ano, o desafio era maior: superar o trauma e ganhar a Libertadores. Tite conseguiu, de forma histórica, alcançar um título não só inédito como invicto. Nem o Santos de Pelé conseguiu isso nos anos 60. E, como se não bastasse todas essas façanhas, preparou o time de forma perfeita até o Mundial: usou o Brasileirão não como um laboratório de experiências ou um martírio, mas para dar ritmo de competição à equipe. O Corinthians terminou o certame em alta, jogando muito e dando a certeza de que, se estivesse disputando o torneio a pleno desde o início, seria candidato ao título. Nunca perdeu o ritmo de competição e chegou ao Japão voando.

Na grande decisão, o derradeiro e maior acerto: confiando no seu futebol apresentado há 24 meses, o Timão encarou o Chelsea, jogou sem medo. Em 2011, o Santos talvez pudesse ter melhor sorte se encarasse mais o Barcelona em vez de ficar fechado, chamando os catalães para a goleada. O Chelsea não é o Barcelona, claro, mas Tite sabia disso. Tite acertou tudo desde aquele fiasco em Ibagué. E por isso ganhou tudo também. Bota competenciabilidade disso.

Comentários

Pati Benvenuti disse…
Tenho bastante noção desse período, porque cheguei em SP exatamente quando o Corinthians disputava a série B, em 2008. Lembro que só fui descobrir que algumas pessoas eram corintianas no ano seguinte, porque a humilhação era tanta que os torcedores nem falavam de futebol antes de voltar à série A.
Tu vê, em quatro anos e pouco, a mudança...